Um monumento para os próximos 100 anos. Assim o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, define o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Baseada no conceito de arena multiuso sustentável, a construção será um dos principais legados dos megaeventos que a capital do país sediará: a Copa das Confederações da FIFA 2013 e a Copa do Mundo da FIFA 2014.
Foto: Lula Marques
À frente da coordenação, fiscalização e acompanhamento de todas as etapas do projeto está a diretora de Obras Especiais da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), Maruska Lima. Para a engenheira civil especialista em Engenharia de Custo e Gestão da Construção Civil, comandar a execução de uma das obras de maior porte de Brasília é uma das principais realizações de sua carreira.
“Que é um desafio, é. Mas eu gosto”, revela. Na reta final da construção e às vésperas da inauguração do estádio, em 18 de maio, Maruska destaca, em entrevista ao Portal Brasília na Copa, os diferenciais sustentáveis e funcionais da arena. E relembra, ainda, alguns dos principais desafios vencidos no canteiro de obras do novo templo do esporte e das artes do DF.
Como foi receber a missão de coordenar a construção do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha?
Eu era chefe do Departamento Técnico da Novacap, que no início recebeu a missão de acompanhar a elaboração do projeto. Na época eu coordenava diretamente as equipes de projetos de arquitetura, de estrutura e de instalações. Ainda na função, acompanhei a elaboração do orçamento e a licitação da obra. Foi então que, em março de 2012, o governador Agnelo Queiroz criou a Diretoria de Obras Especiais para atender aos grandes empreendimentos, especialmente os relacionados aos eventos esportivos. Assumi o cargo de diretora porque já conhecia todo o processo e estava muito envolvida. O estádio é uma das obras de maior porte de Brasília e, sem dúvida, do Brasil. Que é um desafio, é. Mas eu gosto.
Do ponto de vista técnico, quais são os diferenciais da obra?
Em termos de arquitetura, o estádio é grandioso. Ele atende aos requisitos de acessibilidade exigidos pela FIFA e possui tecnologias novas, com o que há de mais moderno no mercado, para atender aos critérios do Leed Platinum, certificação máxima de sustentabilidade. Em termos estruturais, a arena é muito complexa, pois utilizamos materiais de alto nível, como o concreto, que exige um controle grande de qualidade.
Quais foram os principais desafios superados, até agora, no canteiro de obras?
Nossos maiores desafios são das etapas estruturais, que no estádio são totalmente inovadoras. Na construção dos pilares, por exemplo, usamos métodos diferenciados para evitar deformações. O tipo de fôrma utilizado no anel de compressão foi testado diversas vezes e fizemos o controle minucioso do concreto da cobertura para subi-lo a uma altura de 60 metros. Em seguida, concluímos em tempo recorde o big lift, uma das etapas mais difíceis, de içamento simultâneo dos cabos de sustentação da cobertura. Em apenas uma semana suspendemos todas as treliças. Em nenhum lugar do mundo esse procedimento foi tão rápido.
Quais são as características que fazem do estádio uma arena multiuso?
O projeto sempre foi pensado com essa visão de ser um estádio de futebol, mas também um espaço para outros tipos de eventos, como os artísticos. Temos alas que funcionam para o futebol, com vestiários, salas para entrevista, de arbitragem, e outro lado com banheiros, bastidores, camarins, tudo adequado para eventos e shows no campo de futebol. A arena tem essa flexibilidade. Existem, ainda, rampas que dão acesso do térreo direto para o campo, sem passar pelas áreas de serviço do estádio. Nenhum estádio no Brasil foi desenvolvido com essa característica. Brasília precisava de um equipamento como esse.
Se o assunto é sustentabilidade, o estádio também tem suas vantagens, certo?
Com certeza. O conceito de estádio sustentável veio com muita força na Copa do Mundo da África, em 2010. Para o Mundial de 2014, a FIFA e o Ministério do Esporte recomendaram que todas as arenas buscassem a certificação de sustentabilidade. Os aspectos mais relevantes, na arena de Brasília, são a redução do consumo de água e de energia. O projeto prevê utilização total da água da chuva na irrigação do campo e na limpeza de sanitários e outras áreas. Na questão da energia elétrica, temos um anel de compressão de 1km de diâmetro que receberá placas fotovoltaicas. Com isso, o estádio vai gerar energia suficiente para suprir a própria demanda e vender para a CEB. Além disso, temos fatores como otimização do ar-condicionado por meio do sistema de ventilação cruzada, iluminação natural e uma cobertura que contribui para proteção da edificação, manutenção de um ambiente agradável e redução da poluição. Fora do estádio, tem o projeto de paisagismo, com o plantio de plantas do cerrado e aproveitamento da água da chuva nos estacionamentos.
A responsabilidade social é outra marca registrada do estádio. Como mulher, de que forma você enxerga a contratação de 245 mulheres para a construção?
A obra do estádio é inovadora em tudo, especialmente na questão da presença da mulher na construção civil. Temos mulheres que começaram em cargos de serventes e auxiliares de serviços e hoje são operadoras de máquinas. Isso é muito interessante porque a mulher sempre teve pouco espaço. É um orgulho muito grande para elas, e também para mim, como engenheira. A presença de várias mulheres no canteiro de obras mudou até a consciência dos homens. O ambiente de trabalho ficou mais cortês e familiar devido à sensibilidade feminina.
Estamos a poucos dias da inauguração do novo Mané Garrincha. Quais são as etapas que estão sendo executadas na reta final?
Nossos desafios agora são os acabamentos e arremates finais para a entrega da chave à FIFA. Entramos em fase de testes das instalações, verificando o funcionamento de geradores, nobreaks, ar-condicionado, sistemas de som, iluminação e de detecção e combate a incêndio. Além disso, estamos finalizando a instalação das cadeiras e cuidando da manutenção do gramado, que instalamos em apenas três dias.
E no pós Copa do Mundo? Há obras que serão executadas nos arredores do estádio?
Alguns serviços de infraestrutura não serão executados até a Copa do Mundo, pois são em áreas que a FIFA vai usar durante o evento. É o caso da vegetação dos estacionamentos, que vão abrigar tendas temporárias, e dos equipamentos urbanos do entorno, como bancos e mobiliários. A reforma do Complexo Poliesportivo Ayrton Senna também será feita após a Copa. São itens já previstos na licitação e que integram importantes pontos para a certificação de sustentabilidade. Quanto ao entorno do estádio, vamos abrir a primeira fase da licitação, liberada pelo Tribunal de Contas do DF após esclarecimentos do governo. O que estava previsto para três fases, agora será feito em duas: uma pós Copa das Confederações e outra pós Copa do Mundo.
Com informações do Portal Brasília na Copa.
NOVACAP
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